Natural de Coimbra, João André Sousa é aluno do quarto ano do Mestrado Integrado em Medicina e de momento não tem filiação política. O atual Presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra (AAC) é também Senador na Associação Nacional de Estudantes de Medicina. Por Rafaela Carvalho e Sandro Raimundo. Fotografias de Rafaela Carvalho
Qual o balanço que fazes destas eleições? É um balanço positivo. Acho que as listas estiveram bem a tentar chamar a atenção para o órgão, depois da ressaca das eleições para a Direção Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC). Aquilo que as listas conseguiram foi muito positivo em termos de adesão.
Ainda assim registaram uma elevada taxa de abstenção… Os estudantes não conhecem o Conselho Geral (CG). Aliás essa foi uma das bandeiras pela qual a minha candidatura se regeu, foi precisamente esse desconhecimento sobre o CG e sobre aquilo que os estudantes que foram eleitos lá fazem. Foi feito o possível para conseguir mobilizar os estudantes e informá-los.
Quando estiveres no CG tens alguma estratégia para inverter esta situação? A primeira estratégia é que haja uma apresentação periódica, trimestral, de um relatório de atividades que mostre o que é que o CG faz. Porque as atas são muito extensas e densas.
Ao longo dos últimos anos houve alguns conselheiros que primaram por ir às Assembleias Magnas (AM) falar com os estudantes. Concordas? Acho que se deve tentar ser o mais próximo possível dos estudantes. Quer isso implique que essa apresentação do relatório de atividades seja feita nas AM ou nos próprios conselhos internúcleos. Mas também acho que as AM por si não são suficientes, tendo em conta muitas vezes a sua fraca adesão. É importante ligarmo-nos àquele estudante que pouco se interessa pelo associativismo.
Como é que vão fazer chegar, então, esse relatório aos estudantes? Uma das estratégias é criar no próprio site da UC um separador próprio para os estudantes conselheiros gerais. Depois, como disse, os conselhos internúcleos e as AM. Terceiro, as mailing lists. E ainda tentar fazer sessões dentro das várias faculdades, aproveitar muito o fluxo que existe nas cantinas, é importante que os conselheiros gerais também sejam vistos e que estejam muito próximos dos estudantes.
E nesse relatório, já falaste com alguém do CG para saber se há abertura para divulgar determinadas questões que ali são discutidas aos alunos? Até ao momento tem havido um esforço grande do próprio CG no que toca à transparência e à clareza das deliberações e das decisões que são tomadas. Tanto que as atas, não há muito tempo, é que passaram a ser públicas. No entanto, da mesma forma que há abertura para que exista essa figura de atas, queremos que haja uma coisa muito mais simplificada e, por isso, embora nós não tenhamos ainda falado com ninguém do órgão para saber o que é que poderemos fazer, acreditamos que há essa vontade e essa disponibilidade.
Quais os pontos do teu projeto em que vais focar a tua ação? Em campanha identificámos cinco eixos essenciais. Em termos de ação, à cabeça será logo o Ensino. Acreditamos que tendo em conta o rácio que existe entre o número de alunos e o número de professores, tem de ser uma prioridade orçamental – e na medida em que o CG é que vai aprovar o orçamento – contratar mais docentes, fidelizar os investigadores – os quais são contratados ao abrigo de financiamento competitivo – para dar aulas e aproveitar os estudantes de segundo ciclo para serem monitores de algumas unidades curriculares. Para além do Ensino, o emprego também tem de ser uma prioridade. E nós acreditamos que a nível de CG ainda há uma visão um pouco retrógrada sobre este ponto. Nós entendemos e concordamos que a universidade não tem que formar só empregados, também tem um papel importante na divulgação da ciência. Tem que ser aprofundada a informação que passa para o estudante sobre qual é que é a realidade e quais é que são as taxas de desemprego dos cursos. Este é o primeiro passo para que se atue nos cursos onde as taxas de desemprego são maiores. Para além do ensino e do emprego, a investigação foi um dos nossos eixos. Há muito para fazer no que toca ao envolvimento dos estudantes do primeiro e segundo ciclo em unidades de investigação e desenvolvimento. Para nós, a pedagogia, o ensino e a investigação, isto é, a criação de conhecimento tem de estar de mãos dadas desde o início. Porque assim, não só valorizamos muito mais o currículo dos nossos estudantes como também damos uma grande riqueza humana às unidades de investigação e desenvolvimento. Depois, o funcionamento e a governação da Universidade de Coimbra. A nível de financiamento é possível arranjar fontes alternativas e criativas que evitem que os estudantes sejam sempre o parente pobre, sobrecarregados com aumentos de propinas.
Falavas agora de fontes alternativas, para financiamento da própria universidade. Que opções é que propões? Já identificámos duas opções: em primeiro lugar a criação de uma unidade fund-raising exclusivamente dedicada ao contacto com as empresas, à venda da imagem. É uma coisa que falta muito e que acreditamos que possa ser uma estratégia muito interessante para angariar mais financiamento. E a segunda é usufruir mais daquele que é o maior capital da UC que são os antigos estudantes. Acreditamos que por uma estratégia de crowfunding e network junto dos antigos estudantes vamos conseguir fontes interessantes de financiamento.
Consideras que nas diferentes discussões dentro do CG faz sentido os estudantes votarem em bloco para mostrar força? Claro, sem dúvida. Somos tão poucos, se ainda estivermos divididos, será a nossa força para atuar e mudar qualquer coisa. Já tivemos oportunidade de nos reunir e definir algumas linhas estratégicas para o mandato. Vamos ter um desafio logo no início, que será a eleição do reitor. Não temos grandes divisões ideológicas e pragmáticas. Mesmo havendo mais do que um candidato, iremos estar juntos naquele que nos oferecer melhores garantias de colocar em prática as nossas reivindicações.
Que balanço fazes do mandato do Reitor? O reitor, na minha opinião, beneficiou muito a instituição. Vivemos tempos conturbados a nível nacional e o reitor soube afirmar-se e arranjar alternativas para garantir a sustentabilidade da universidade. E, para além disso, beneficiou muito a comunidade académica por ter uma proximidade muito grande com os estudantes.
Vais integrar o órgão que decide o valor da propina, qual é a tua posição? A propina é um valor que traz à UC uma grande desvantagem comparativamente a outras universidades. E neste sentido, o facto de nos já termos uma propina que é bastante superior à da Universidade do Porto, para dar um exemplo, acredito que já tenhamos uma desvantagem comparativa. O seu sucessivo aumento não tem correspondido a um aumento proporcional da qualidade de ensino. Não temos condições para aumentar mais a propina. E, para além disso, é uma forma de financiamento muito fácil de se obter, muito pouco criativa, muito pouco sustentável.
Nos últimos anos tem sido discutido o congelamento da propina, sem ter sido aprovado. Este ano houve a nova possibilidade de um plano mensal para implementar a partir de 2015. Qual a tua opinião? É estarmos a tentar remediar um problema quando a solução terá que ser muito mais de fundo. No mínimo congela-la. Não podemos estar com meias medidas.
Em relação ao regulamento pedagógico que foi implementado que gerou muita controvérsia junto dos estudantes. Qual a tua posição? É importante entender até que ponto é que este regulamento pedagógico, em primeira instância, está a ser ou não cumprido pelas várias faculdades. A sua aprovação foi um passo, o segundo passo que é a sua implementação. No entanto, apesar de ter havido alguns atritos e de em alguns pontos ser um pouco dúbio e prejudicial aos estudantes, no seu todo é um documento que está bom, forte e para o qual os estudantes tiveram oportunidade de dar o seu contributo.
A nível da constituição do CG, concordas com todos os elementos e com o seu trabalho? Muitos dos elementos do CG ainda são elementos fantasma. Estão lá um pouco para fazer número. Tenho pouco dúvidas ao afirmar que há muita ineficiência no órgão. Quero pautar-me por uma postura que vá além das reuniões ordinárias. E duvido que esta seja uma postura que seja adotada por parte dos professores. Considero que o número dos professores é um número exagerado. Quanto às entidades externas estas dão uma mais valia muito interessante à UC porque dão o contributo da própria sociedade,permitem reorientar a universidade que muitas vezes se fecha em si mesma. Permitem que haja uma abertura, que hajam novas ideias e permitem dar uma frescura a uma universidade que só ganha em ter contributos de toda a sociedade civil.
Consideras então que há excesso de professores, existe alguma alternativa? Sim, a minha alternativa é precisamente que os estudantes sejam mais representados e que os professores menos. Embora seja uma sugestão que ainda requer reflexão. Para já, o urgente é que os cinco estudantes que estão no CG se façam ouvir por dez ou por quinze e que tenham uma participação fundamentada, informada e consequente.
Na possível revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) o que consideras mais premente rever? Tentar, no que diz respeito ao órgão do CG, que os estudantes tenham uma representação efetiva maior. Perceber até que ponto ou não, as universidades, em termos de regime de funcionamento, conseguirão ter autonomia para manobrar e se financiarem. Os estudantes conselheiros gerais, em concertação com os das restantes universidades portuguesas, podem ter um papel muito ativo neste processo. Devemos tentar que os estudantes tenham uma representação efetiva maior e perceber até que ponto as universidades conseguirão ter autonomia para se financiar.
Ainda assim esta discussão do RJIES está em cima da mesa já há mais de dois anos e não tem avançado. Consideras que isto poderá ser uma forma de o governo deixar isto para uma posterior legislatura? Tenho um pouco receio que sim, que se tenha chutado e se continue a chutar a reforma do RJIES para canto.
Que balanço fazes do mandato dos anteriores conselheiros estudantes? É um trabalho que tem passado muito na penumbra. Tem-se conseguido algumas vitórias muito interessantes, mas no entanto falta o segundo passo que é o de ligar essas vitórias aos estudantes que podem usufruir delas.
Consideras esse período suficiente para as funções de um conselheiro estudante? Eu considero que é suficiente tendo em conta o percurso académico de um estudante e tendo em conta ainda a continuidade que deve sempre haver entre mandatos.
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