Estudo iniciado em Nova Iorque culmina com o desvendar de um desafio de longa data na hematologia. Resultados podem garantir maior sucesso em transplantes. Por Rita Portugal
As células estaminais do sangue encontram-se na medula óssea e têm a capacidade de gerar os dez tipos celulares que compõem o sangue, “desde os glóbulos vermelhos aos glóbulos brancos, essenciais para a defesa do organismo”, explica Filipe Pereira, coordenador do estudo que descobriu a origem destas. A revelação foi encontrada após um grupo de cientistas do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC) realizar investigações durante cerca de três anos sobre o tema, que consistiu em encontrar as células precursoras das células estaminais sanguíneas.
Uma das aplicações práticas desta descoberta são os transplantes, o exemplo mais antigo de medicina regenerativa. “Quando alguém precisa de uma transplantação de medula procura-se um dador compatível”, um procedimento de extrema dificuldade, lembra o investigador.
A investigação tem início em Nova Iorque, no Ichan School of Medicine at Mount Sinai e termina na UC-Biotech, em Cantanhede. Mune-se de informação gerada numa pesquisa anterior, na qual tentaram “induzir as células estaminais de sangue a partir de outro tipo de células, as da pele”. Filipe Pereira revela terem tirado partido dessa “informação privilegiada” para tentar responder a “um desafio que era já de longa data na hematologia [ramo da Medicina que estuda o sangue] – identificar os precursores das células estaminais do sangue”.
A descoberta foi feita em ratinhos, pelo que se coloca a questão da viabilidade de ser aplicada em seres humanos. O coordenador afirma tratar-se do “próximo passo” de um projeto que vai ser “iniciado em breve”. O procedimento passa pelo “isolamento destes precursores usando as informações já adquiridas a partir de placentas humanas”, algo que estima ser possível dentro de 3 a 5 anos.
O estudo foi suportado pelo National Institutes of Health (NIH) e pela Revson Foundation Nova Iorque. O financiamento continua a ser feito em Portugal, ainda que “demore algum tempo a chegar”, conta Filipe Pereira.
Fotografia gentilmente cedida pela UC
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