Dirigentes estudantis reuniram-se com governo e Presidente da República. Abandono escolar, atribuição de bolsas e empregabilidade estiveram em cima da mesa. Comemorações em Coimbra ilustraram algumas dificuldades vividas dentro da UC. Por Margarida Mota
Mais uma iniciativa incorporada no projeto “Desigualdades Monumentais” foi a forma como a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) comemorou ontem, 24, o Dia do Estudante. A par de reuniões com a secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e ES, Maria Fernanda Rollo, e com o Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa, a DG/AAC marcou a sua posição perante os problemas que o ES enfrenta nos dias de hoje.
Urgência no combate ao abandono escolar
Para o presidente da DG/AAC, José Dias, um “tema prioritário para os estudantes” como é o abandono escolar não podia deixar de estar na ordem de trabalhos da reunião com o Governo. “Existem vários fatores que têm excluído os estudantes, não só económicos, que causam maior preocupação, mas também pedagógicos”, refere. O dirigente associativo aponta como novidade resultante deste encontro a constituição de uma comissão governamental, que vai incluir estudantes, para uma análise profunda do abandono escolar. “Não existe qualquer tipo de dados na academia, apenas relatórios muito pontuais que não analisam o sistema no seu todo”, afirma José Dias. Outra inovação referida pelo presidente da DG/AAC é a criação de um número de identificação para cada estudante que mostra o seu percurso académico ao Governo. “O Estado vai conseguir perceber a todo o momento se um estudante abandonou o curso para ir para outra instituição, se abandonou de todo ou se o fez para ir trabalhar”, conclui.
Reforço da ação social escolar apontado como prioridade
A ação social escolar foi um dos principais pontos abordados na ordem de trabalhos no Palácio de Belém. Perante Marcelo Rebelo de Sousa, José Dias reiterou que é necessária uma “revisão urgente do Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do ES [RABEEES]”. O presidente da DG/AAC considera que “não existe adaptação do regulamento à realidade” e que é premente aumentar o limiar de elegibilidade de modo a abranger a “zona cinzenta em que muitos estudantes se encontram”. O congelamento do valor do indexante de apoios sociais em 2009 é a justificação de José Dias para que seja “impossível a existência de uma bolsa adequada àquilo que é a vivência de um agregado familiar”.
Empregabilidade contemplada como fator-chave
Os níveis de emigração registados em território nacional são, para o dirigente associativo, um espelho das políticas de empregabilidade colocadas em prática para recém-licenciados. “O emprego jovem está muitas vezes arredado do léxico do ministério com a pasta do ES”, confessa José Dias. Acrescenta ainda que “os jovens têm muitas dificuldades em fixarem-se em Portugal, o que se sente ainda mais na região Centro, que não possui um tecido industrial ou profissional estabelecido”. O presidente da DG/AAC aponta como solução um papel mais preponderante do Estado junto das autarquias” para um melhor desenvolvimento das políticas de emprego jovem.
Concentração estudantil retrata problemas estruturais do ensino na UC
Numa perspetiva local, o Largo D. Dinis acolheu uma ação simbólica de sensibilização promovida pela DG/AAC. Segundo José Dias, “as circunstâncias económicas não podem arredar o tema da aprendizagem do debate político”. O Processo de Bolonha e a falta de professores são críticas a apontar pelo dirigente associativo não só ao ES, mas em especial à Universidade de Coimbra (UC). “O ensino está descentralizado do estudante, existe falta de apoio dos docentes e muitos cursos não têm capacidade suficiente para albergarem toda uma turma numa sala de aula”, confessa. José Dias explica a simbologia do espaço e afirma que “o rei D. Dinis representa a figura do docente e muitos estudantes ficam de pé por não terem lugar onde se sentar”. A par da necessidade de um ensino mais descentralizado, a DG/AAC pede a revisão do Processo de Bolonha.
O presidente da DG/AAC espera um próximo contacto com Marcelo Rebelo de Sousa já no próximo dia 17 de abril, quando se comemora o 47º aniversário do pedido de palavra do presidente da DG/AAC em 1969, Alberto Martins, na inauguração do edifício do Departamento de Matemática. José Dias sublinha que, desde então, “nenhum PR voltou a ouvir os estudantes nesse dia e nessas circunstâncias em Coimbra”. Apesar de ainda não ter uma resposta oficial, o dirigente associativo pretende, entre outros aspetos, que a visita decorra até “uma ou duas residências universitárias, espaços privilegiados de alojamento nem sempre com todas as condições”, para que o PR consiga ver “quais são as dificuldades vividas pelos estudantes”.
Fotografia: Margarida Mota
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